A trajetória do maior festival de música do Brasil
- 2 de jun. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 18 de jun. de 2018
No início do Festival da Canção conseguir patrocínio era mais difícil do que hoje, pois era um evento muito simples sem um grande público

Por: Viviani Barbosa Costa
Criado em 1971 e inicialmente chamado de Festival da Canção de Boa Esperança, o evento musical possui oito etapas, disputadas nas cidades de São Lourenço, Extrema, São Thomé das Letras, Coqueiral, Guapé, Nepomuceno e Boa Esperança (semifinal e final). Considerado o maior festival de música do país, o Fenac conta com intérpretes e compositores dos mais diversos Estados, agregando para as cidades que os recebem mais diversidade cultural e artística. Retomando assim, as raízes da música popular brasileira e trazendo o sentimento de nostalgia aos amantes de Milton Nascimento, Chico Buarque e Elis Regina.
O início
A principal inspiração para criação do evento foi o festival de música da TV Record, o qual revelou diversos artistas, como por exemplo: Chico Buarque, Caetano Veloso e Gilberto Gil. O criador do Festival Nacional da Canção, Gleizer Corrêa Naves relata que possuía uma paixão pelos festivais da Record e quando eles acabavam ficava um vazio que precisava ser preenchido. Foi assim que nasceu a ideia de criar o Festival da Canção de Boa Esperança, pois Gleizer era natural da cidade.
O primeiro evento foi muito primário, não havia uma produção tão profissional como hoje, mas ao longo dos anos foi crescendo e atraindo um público muito grande. Por ser uma cidade aconchegante, Boa Esperança caiu nas graças do povo, as ruas ficavam lotadas e a festa acabou tomando um rumo diferente do que era proposto. A maioria das pessoas que estava na cidade não assistia o festival, apenas participava da festa que ocorria fora do clube (onde era realizado o evento).
Gleizer afirma que foi muito difícil tomar a decisão de levar o Festival para outras cidades, pois a população esperancense não queria, mas já não havia mais sentido o evento permanecer em um único local, pois o objetivo não estava sendo atingido e a cidade lotava de pessoas que nem sabiam o que estava acontecendo. Então, decidiu-se que apenas a semifinal e a final seriam em Boa Esperança. Assim, nasceu o Festival Nacional da Canção.
Dificuldades
No início do Festival da Canção, conseguir patrocínio era mais difícil do que hoje, pois era um evento muito simples, sem um grande público. Gleizer conta que nos primeiros anos de festival, ele gastou quase todo seu salário para cobrir os gastos e era por isso que inicialmente se cobrava ingresso, para quitar os gastos básicos, como a premiação dada aos vencedores dos festivais. Hoje, as prefeituras das cidades que recebem o evento ajudam com mais firmeza em sua realização, pois perceberam o seu verdadeiro valor para a cultura das pessoas. Além das prefeituras, o festival conta com dezessete patrocinadores.
Atualmente, o gasto com o festival gira em torno de 200.000 reais por cidade e cada prefeitura ajuda com 60.000 reais, o restante o festival consegue por meio de leis de incentivo: “Os patrocínios nós conseguimos por meio da lei de incentivo, é raro um patrocínio direto” – afirma Gleizer.
A censura vivida durante o regime militar
Quando o festival foi criado em 1971, o Brasil vivia a rigorosa ditadura do governo Médici, onde artes e espetáculos com teor contraditório ao regime eram sempre alvo de censura. Com o festival não foi diferente, as músicas que seriam apresentadas no evento precisavam passar por uma vistoria em Belo Horizonte, e muitas delas foram censuradas. Gleizer conta que ele encontrou um modo de ‘burlar’ o sistema. “A gente pegava as músicas que eram censuradas e mudávamos os títulos delas e colocávamos outras que não foram classificadas no lugar das censuradas” – contou.
Na década de 70 no Brasil, a tecnologia ainda era muito primitiva, dessa forma, não havia registros das músicas que foram apresentadas no festival. A única forma de descobrirem que as composições censuradas foram apresentadas era se algum dos militares viesse ao evento, e isso seria muito remoto, pois o festival ainda era muito pequeno e sua divulgação também.
A disseminação da MPB (Música Popular Brasileira)
O Fenac foi criado com o objetivo de dar palco para artistas que são desconhecidos pela grande mídia e com isso não deixar o talento e a arte morrerem.
O cantor e compositor Márcio Pazin da cidade de Chapecó – Santa Catarina, que participou várias vezes do Festival destaca a importância do evento: “O Fenac é muito especial em vários aspectos. O público tem a oportunidade de ver e ouvir músicas inéditas em apresentações de músicos que se deslocam de todo país para cidades interioranas. Com isso, fomenta a cultura e a apreciação de musicas com qualidade de arranjos, letras e sonoridades diferentes. Tudo se tornando parte do desenvolvimento cultural das cidades” – relata.
Alceu Valença que é um cantor e compositor renomado, também afirmou em entrevista ao site do Fenac que só está na música graças aos festivais que participou antes da fama. Além dele, muitos artistas conhecidos nacionalmente como Zeca Baleiro, Zélia Ducan, Almir Satter e Renato Teixeira já fizeram shows no encerramento de etapas do Festival e ficaram maravilhados com o evento e sua qualidade musical e artística. A participação desses artistas também traz para o público a oportunidade de conhecer ícones da MPB.
O Fenac tem muito a acrescentar para as cidades que os recebe, tanto na questão cultural como no conhecimento musical de diversas regiões. “O público acompanha sempre muito carinhoso e receptivo com todos os artistas. Isso se torna muito encantador e faz com que sempre queiramos voltar a participar. A organização do festival consegue criar um ambiente muito positivo, o que gera esse sucesso que o Fenac é. Com certeza marca a carreira de todos os músicos que participam, e acredito que marque também o público que acompanha sempre com muito entusiasmo” – finalizou Márcio Pazin.
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