Fake news: Quando o falso vira notícia
- 17 de jun. de 2018
- 4 min de leitura
Atualizado: 18 de jun. de 2018
Em meio à greve dos caminhoneiros e falta de combustíveis, motoristas em busca do produto caíram em falsas notícias, enquanto internautas ironizavam o fato

Por: Maicon Adão
Antigamente os boatos eram propagados boca a boca. Uma notícia era espalhada na medida em que uma pessoa falava para outras, e isso gerava o famoso “telefone sem fio”, onde a cada vez que o fato era repassado sua história também era alterada. Hoje, com a rapidez que se deu a utilização da tecnologia e redes sociais, a mesma velocidade acompanhou a divulgação das notícias falsas, o que atualmente chamamos de fake news.
Jornalista e professor universitário, Joel Corsini, das diversas disciplinas que ministra no Centro Universitário do Sul de Minas (Unis), uma delas tem tudo a ver com a atualidade: Comunicação e tecnologia. Segundo ele, é necessário que os pilares básicos do jornalismo sejam preservados, a fim de que não haja espaço para a propagação das fake news. “É preciso diferenciar, dentro do jornalismo, o ‘Jornalismo de Inovação’ e a ‘Inovação no Jornalismo’. É importante poder criar um novo jornalismo, otimizando ações práticas profissionais, utilizando novos recursos tecnológicos, mas sempre lembrando dos princípios basilares da profissão: A ética e a verdade na transmissão dos fatos. Estes últimos pontos são atemporais e não devem se afetar com a tecnologia”, revela. Quem trabalha diariamente com informação sabe muito bem disso. Estela Torres, jornalista da Rádio Itatiaia Sul de Minas comenta sobre a importância de sempre estar atento ao menor sinal de uma falsa notícia. “A checagem de informações é o ponto base de qualquer trabalho jornalístico, mas na era das fake news este trabalho tornou-se mais árduo, na minha opinião. Há fakes que são plantadas em cópias idênticas de jornais verdadeiros e a gente não pode confiar nem em órgãos oficiais dos governos, que também tem seus logotipos copiados por mentirosos. O ideal é entrar em contato diretamente com suas fontes”, ensina.
Com a crescente onda das fake news, muitos podem estar se perguntando sobre se o futuro do jornalista possa estar ameaçado. A jornalista e coordenadora do curso de Jornalismo do Centro Universitário do Sul de Minas (Unis) acredita que esse período possa ser um divisor de águas tanto para o profissional quanto para o público. “Esse é o momento de dividirmos o que é confiável e o que não é, reforçar a nossa obrigação de checar a informação, repensar o modo de fazer o jornalismo palpado no furo a qualquer custo, não vejo como uma ameaça. Acredito apenas que é uma grande oportunidade de separarmos os veículos que realmente se preocupam com o objetivo de fidelidade aos fatos e pensarmos em novas formas de checagem, mediações, inclusive nos aproveitarmos da tecnologia para ser ferramenta útil ao nosso trabalho”, explica.
O filósofo Zygmunt Bauman, falecido em janeiro de 2017, já ensinava que vivemos em uma “sociedade líquida”, devido ao imediatismo e a falta de aprofundamento em determinados temas e situações. É essa falta de profundidade que está abrindo campo para o aumento das fake News. Na ânsia por determinada informação, checar cada vez mais as fontes é imprescindível. Em alguns casos a pressa é inimiga da perfeição. Como em Varginha-MG, onde vários motoristas caíram em um boato, divulgado principalmente pelo Whatsapp. “Quando vejo milhares de pessoas acreditando mais em notas de Whatsapp do que nos jornais que estão há anos no mercado, eu sinto que nosso trabalho jornalístico não serve pra nada. Mas no momento em que a sociedade tiver consciência de que é constantemente enganada e feita de boba pelas fake news, então o jornalismo verdadeiro voltará a ser a única fonte de informação da população. Basta que o povo perceba que é enganado”, reflete a jornalista Estela Torres.
Devido à greve dos caminhoneiros várias cidades passaram por uma escassez de combustíveis. No dia 29 de maio, vários motoristas fizeram uma fila imensa em um posto de combustíveis, na Praça Getúlio Vargas, no centro de Varginha, após um boato circular nas redes sociais dizendo que o local iria receber combustível. Mesmo não havendo funcionários, o posto estando fechado, e com correntes à sua volta, os motoristas se mantiveram no local. Houve até distribuição de senhas para quem chegasse. Segundo informações da TV Alterosa, a equipe de jornalismo entrou em contato com o proprietário, que desmentiu a informação. Quem passou horas esperando ficou revoltado. Nas redes sociais houve quem zombasse dos motoristas que caíram na fake news. “Só não consigo entender que quando está na fila do hospital esperando 1 ou 2 horas reclama. Agora para esperar 17hrs no sol ou no frio para pegar gasolina não reclama. E povo...”, ironizou um internauta.
Confira alguns dos comentários no slide:
“Achei interessante este fato, inclusive porque o presenciei e o policial pediu para que eles se retirassem, pois tratava-se de uma fake News. Mais à noite houve outro posto na mesma situação”, revelou Gisele. Para Estela o comodismo também é uma explicação para os motoristas terem caído no boato. “As pessoas têm preguiça de procurar a informação certa. As pessoas acham que, porque alguém falou, é verdade. Se as pessoas tivessem coragem de, ao menos, telefonarem para o posto antes de ir pra fila da gasolina, aquilo não teria acontecido”, explica. Joel acredita que ao mesmo tempo em que a tecnologia nos proporcionou avanços, a mesma no fez reféns. “A velocidade e facilidade de recebermos informação em nossos celulares nos deixou preguiçosos de verificar a realidade das informações. Some isso a um cenário social de caos, onde existe preocupação extrema de falta de combustível, que antes não nos afetava, e todos ficam mais relapsos e acreditam mais facilmente nas fake news. Ou seja, a crise dos combustíveis achou uma palha para deixar mais forte ainda a fogueira das notícias falsas. No desespero, os mineiros de Varginha acabaram se esquecendo de uma premissa básica da nossa gente: sempre confiar desconfiando”, ensina.
É necessário se cercar de cuidados para não cair em boatos. “Acredito ser importante, verificar a credibilidade do veículo, desconfiar de dados que saem da normalidade, tomar cuidado com as ideologias implícitas e explícitas, checar o conteúdo antes de compartilhar ou fazer novas matérias, ligar diretamente às fontes e confrontar dados com mais de uma referência oficial”, ensina Gisele.

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